quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Tradução - Kubla Khan, de Samuel Taylor Coleridge



Kubla Khan é um poema escrito por Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês, em homenagem ao grande líder mongol Kublai Khan e seu palácio de verão, Xanadu. O poema descreve eloquentemente Xanadu e o rio sagrado Alph, as vezes de forma subjetiva, outras, de forma direta, a através desse relato fala de seus próprios sentimentos. Esse poema é uma prova do fascínio que o Ocidente tinha pelo Oriente, ou mais além, do fascínio que o homem tem do desconhecido.
Essa tradução tenta ao máximo respeitar a métrica e o esquema de rimas do poema original, e toma algumas liberdades onde o tradutor achou que elas seriam bem-vindas.


KUBLA KHAN
Samuel Taylor Coleridge
In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree:
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.

So twice five miles of fertile ground
With walls and towers were girdled round:
And there were gardens bright with sinuous rills,
Where blossomed many an incense-bearing tree;
And here were forests ancient as the hills,
Enfolding sunny spots of greenery.

But oh! That deep romantic chasm which slanted
Down the green hill athwart a cedarn cover!
A savage place! As holy and enchanted
As e'er beneath a waning moon was haunted
By woman wailing for her demon-lover!
And from this chasm, with ceaseless turmoil seething,
As if this earth in fast thick pants were breathing,
A mighty fountain momently was forced:
Amid whose swift half-intermitted burst
Huge fragments vaulted like rebounding hail,
Or chaffy grain beneath the thresher's flail:
And 'mid these dancing rocks at once and ever
It flung up momently the sacred river.
Five miles meandering with a mazy motion
Through wood and dale the sacred river ran,
Then reached the caverns measureless to man,
And sank in tumult to a lifeless ocean:
And 'mid this tumult Kubla heard from far
Ancestral voices prophesying war!

The shadow of the dome of pleasure
Floated midway on the waves;
Where was heard the mingled measure
From the fountain and the caves.
It was a miracle of rare device,
A sunny pleasure-dome with caves of ice!

A damsel with a dulcimer
In a vision once I saw:
It was an Abyssinian maid,
And on her dulcimer she played,
Singing of Mount Abora.
Could I revive within me
Her symphony and song,
To such a deep delight 'twould win me
That with music loud and long
I would build that dome in air,
That sunny dome! those caves of ice!
And all who heard should see them there,
And all should cry, Beware! Beware!
His flashing eyes, his floating hair!
Weave a circle round him thrice,
And close your eyes with holy dread,
For he on honey-dew hath fed
And drunk the milk of Paradise.




KUBLA KHAN
Samuel Taylor Coleridge
Em Xanadu erigiu Kubla Khan
Um domo de prazer decretado
Onde o rio sagrado Alph corria
Em cavernas que o homem não mediria
Em um mar pelo sol não explorado.

O solo fértil se estendia
Com ameias trançadas ao dia
Nos jardins e trilhas sinuosas
Florescia uma árvore de incenso
Em florestas tão misteriosas
Com raras manchas ensolaradas.

Mas ah! O profundo abismo romântico
Na colina, coberta de madeira cortante
Lugar selvagem! Santo, como um cântico 
Pois, a lua em prantos é amaldiçoada
Por uma dama e seu demoníaco amante
E do abismo, inquieto e fervente
Como se a terra respirasse inocente
Uma fonte surgiu, no momento forçada
E vindo de seu jato interrompido
Fragmentos caíram como granizo
Ou grãos que somem sem aviso
E dentre as rochas em sua dança
Correu acima o rio sem temperança
Seguindo seu caminho sinuosamente
E dentre a madeira o rio corria
Até as cavernas que o homem não mediria
E afundou em tumulto num mar sem vida
E nesse tumulto, Kubla ouviu da terra
Vozes ancestrais profetizando guerra!


A sombra do prazeroso domo, ela
Flutuava por dentre as ondas
Onde foi ouvida com cautela
Da fonte e das cavernas sem sondas
Era um milagre, com todo o direito de Sê-lo
O domo de prazer, ensolarado e feito de gelo!

Uma donzela e um saltério
Eu tive essa visão um dia
Era uma abissínia escrava
E com seu saltério, ela tocava
Cantando do monte Abora
Ah! Se pudesse tê-la dentro de mim
Sua música e sinfonia
Um êxtase tão profundo viria a mim
Que com sua música e sua harmonia
No ar, o domo talvez eu construa
Prazeroso domo! Ensolarado e de gelo
E todos que ouviram os veriam então
E todos gritariam Atenção! Atenção!
Seus olhos brilham, seu cabelo flutua
Teça um círculo a sua volta com riso
E feche seus olhos com medo e castidade
Pois ele se alimentou do mel da eternidade
E bebeu o leite do Paraíso.


12 comentários:

  1. Ótimo poema, eu havia lido em inglês, mas não havia compreendido bem, obrigado pela tradução!
    keep up the good work man xD

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    1. Obrigado! É tanto uma adaptação quanto uma tradução, pois é impossível traduzir completamente o gênio de Coleridge. Aqui, a preocupação foi manter o esquema de rimas e a métrica, quando possível.

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  2. Ouvi falar que o poeta havia sonhado com tais imagens e, ao acordar, começou a relatar sua vigem onírica quando um amigo o chamou e,logo depois, tentando voltar ao poema, não se lembrava de mais nenhuma imagem do sonho. Por essa razão, ele havia parado de escrever na 54ª linha.

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    1. É uma questão interessante... Até que ponto o sonho se mistura com a imaginação do poeta? Poderia ele ser conscientemente creditado com a beleza do poema, ou foi tudo fruto do inconsciente?

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  3. Foi isso mesmo Chris Santos. Muito interessante! Pois nosso cérebro só precisa de 10 minutos para esquecer 90% do sonho, o que com certeza aconteceu com ele.

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  4. Li em um livro chamado Incognito a vida secreta do cérebro que na realidade ele cita que foi um devaneio após usar ópio.

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  5. Nunca tinha lido, na verdade, nunca tinha ouvido falar de tal poeta.Mas tem uma passagem interessante na série de tv Homeland, na terceira temporada, em que uma das personagens, Dana Brody, recita a primeira parte do poema. Achei lindo e intrigante e acabei caindo aqui. Lendo- o por completo, posso dizer agora que é lindo e cativante. Parabéns pela tradução...

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  6. Inspiração para Xanadu - Rush.
    Muito bonito!

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    1. Com certeza. O saudoso genio da bateria e grande letrista, era um ávido leitor, de onde tirou inspiração para Tom Sawyer de Mark Twain, "Fountain of Lamneth que aborda a lenda da deusa Pabacéia. E também ficou ficou impressionado com a poderosa História de Kublai Khan. Esse cara faz falta.

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  7. Inspiração para nossos dias tediosos e sonhos que tivemos e temos a sensação de que aconteceu sim, com toda força....

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  8. Esse é um poema "por excelência" sob efeito de psicoativos. Segundo Claudio Willer: Kubla Khan de Coleridge tomou luadano e adormeceu e sonhou um poema inteiro completo quando acordou reteu alguns trechos desse tema (um poema sob efeito de drogas por exelencia.... ver palestra: . http://coletivodar.org/2013/11/drogas-e-literatura-videos-de-palestra-da-claudio-willer/

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  9. vi esse lindo poema no filme "Santuário". É um dos melhores poemas que já li

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