Algumas formas de entretenimento nos levam à refletir mais do que entretêm(Ou talvez a reflexão seja uma forma de entretenimento?). A maioria dos personagens que nos são apresentados são muito semelhantes a seres humanos, até porque a única base na qual podemos nos apoiar ao inventar um personagem conhecemos seja a humana. O que nos leva a apreciar tanto uma obra, o que nos leva a gostar tanto de uma série, de um filme ou de um livro é porque nos identificamos com seus personagens. No nosso íntimo, nos reconhecemos nos personagens, e embora por vezes os desafios que tais personagens enfrentem estejam além da nossa rotina, as atitudes que eles tomam nos refletem. Caso seja uma atitude egoísta, você a identifica em você mesmo. E assim, a série nos faz acompanhá-la rigorosamente, sempre esperando ver determinado personagem em ação.
Em um livro, uma das coisas que mais me irritavam nos escritores era o fato de que eles dividam o livro em várias estórias interligadas. Obviamente, a estória principal era infinitamente melhor que as outras, mas as estórias se revezavam em capítulos. Um capítulo sobre tal personagem, o outro sobre outra, e assim por diante. Mas me irritava o fato de o escritor me forçar a ler um capítulo que parecia insuportável só para encher páginas. Então, ao me aproximar do final do livro, eu entendo o que os escritores estão fazendo. Eles estão prendendo minha atenção por uma estória aparentemente irrelevante para depois revelar algo que só é entendido caso você tenha lido os capítulos irrelevantes. E por isso eu me sentia aliviado, ao perceber que valera à pena passar por todos aqueles capítulos insuportáveis afinal. Caso eu os pulasse, como me sentia tentado a fazer, jamais entenderia a história completamente.
Porém ao ler esse mesmo livro alguns anos depois, eu percebo que é mais do que isso. O escritor tenta, através desse pequeno joguinho de capítulos, nos fazer apreciar a obra como um todo, e não apenas um personagem. E mesmo os capítulos irrelevantes trouxeram alguma coisa à leitura. O que me leva à pensar...
E se assim for a vida? Quaisquer que sejam as forças escrevendo nossa história, não estariam elas em determinado momento escrevendo um desses capítulos insuportáveis apenas para revelar que, no final, ele fez toda a diferença? Através dessa pequena reflexão me vem à cabeça o sentido da frase "viva cada dia como se fosse o último." Um desses capítulos irrelevantes pode fazer alguma diferença no final... E, apesar da tentação de simplesmente ignorá-lo, no final, a sensação de alívio por não tê-lo feito supera qualquer outra. Por isso, apesar do clichê, viva cada dia como se fosse o último.
Deixe acontecer.
P.S.: O primeiro parágrafo não teve quase nada a ver com o resto do texto. Se ele tivesse vindo depois, você teria tido vontade de pulá-lo?
I wake up to the sound of music; Mother Mary comes to me;
Speaking words of wisdom, Let it Be…
(…)
There will be an answer, let it be…
Let it Be
The Beatles
Let it Be
Apple (EMI Records)
Victor,
ResponderExcluirlendo suas reflexões sobre o tempo me vieram à cabeça duas coisas que gostaria de compartilhar com você: a primeira é uma lenda francesa que está n'O Livro das Virtudes e se chama a linha mágica. É mais ou menos a mesma história que está no filme Click, com o Adam Sandler.
A segunda é a frase "Carpe Diem" do poeta latino Horácio, que está num filme genial chamado A Sociedade dos Poetas Mortos. O professor cita essa frase para ensinar a seus alunos exatamente aquilo que você nos mostra no seu blog.
Enfim, muito pano pra manga, mas tudo isso só pra dizer que eu achei muito legal o que você escreveu. Abraços,
Pai.